domingo, 14 de junho de 2015

Os espíritos em prisão em I Pedro 3:19

"Ele [Cristo] foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída" I Pedro 3:18a-20 (NVI).

   "Por meio de Noé, o Espírito Santo, que ressuscitou a Cristo, pregou aos antediluvianos que estavam presos pelas cadeias do pecado." Paráfrase do prof. Leandro Quadros, em "Na Mira da Verdade (Casa)", vol. 2, p. 52.

"Alguns defendem que a epístola (1Pe 3:18-20; 4:6) apoia a doutrina da imortalidade da alma e da consciência após a morte e que, durante o intervalo entre a crucifixão e a ressurreição, Cristo desceu ao hades, o reino figurado dos mortos (ver com. de Mt 11:23), para pregar aos espíritos desencarnados definhando ali. Todavia, a lógica desse ponto de vista requer que os "espíritos" aqui mencionados estivessem em um tipo de purgatório quando Cristo pregou para eles e que o propósito da pregação fosse lhes dar uma chance de ser salvos e escapar dali. No entanto, a maioria dos protestantes que creem que Pedro ensina a consciência do ser humano após a morte ficaria horrorizada em aceitar a doutrina papal do purgatório e o conceito igualmente antibíblico de uma segunda chance. Quem defende que Pedro apoia aqui a crença na suposta imortalidade da alma também precisa explicar por que Cristo seria parcial em não dar aos pecadores de outras gerações a mesma oportunidade dada aos "espíritos" dos pecadores da época de Noé" CBASD - Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 7, p. 629.

pregou. Cristo falou pelo Seu Espírito através de Noé, proclamando a mensagem da salvação. Esta passagem não pode ser usada para ensinar que no período entre Sua crucifixão e Sua ressurreição Cristo foi e pregou às almas imortais do povo do tempo de Noé. Adicionalmente ao fato de que a Bíblia não provê apoio ao conceito de que a alma é imortal, em sua segunda epístola Pedro exclui a possibilidade que o povo do tempo de Noé tivesse uma segunda chance e pudessem ainda ser salvos ...  Andrews Study Bible.

espíritos. A palavra utilizada para espírito frequentemente se refere a seres humanos (e.g., 1Co 14:32; Heb 12:23; 1Jo 4:1). Os espíritos (pessoas) do tempo de Noé eram cativos na prisão do pecado. De acordo com a Escritura, somente oito pessoas escaparam dela (1Pe 3:20). Andrews Study Bible. 

prisão. O fato de somente oito pessoas terem escapado do dilúvio (Gn 6:5-13; 1Pe 3:20) evidencia que os antediluvianos estavam firmemente presos ao pecado. Ninguém, além de Cristo, é capaz de libertar os seres humanos dos hábitos e desejos maus que Satanás usa para acorrentá-los. CBASD, vol. 7, p. 630.

O Dr J. Rawson Lumby, comentando I Pedro 3:17-22 em The Expositor's Bible, observa que, durante os primeiros séculos, período em que a religião católica, com sua crença no purgatório, era dominante, a passagem foi interpretada significando que Cristo foi pregar a almas no inferno. "Mas no tempo da Reforma, as principais autoridades expunham a pregação do Espírito de Cristo através do ministério do patriarca [Noé]". O Dr. John Pearson, em sua Exposition of the Creed, uma obra clássica da Igreja Anglicana, observa: "É certo, portanto, que Cristo pregou àquelas pessoas que nos dias de Noé foram desobedientes; todo aquele tempo 'a longanimidade de Deus aguardava' e, consequentemente, o arrependimento era oferecido. E é tão certo que Ele nunca lhes pregou depois que elas morreram". Respostas a Objeções (Casa), p. 314.



Jesus "pregou aos espíritos" dos mortos?
Com base em 1Pedro 3:19, muitos cristãos creem que, durante Sua morte, Cristo desceu até o inferno e pregou aos "espíritos em prisão". 
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Ao ler 1 Pedro 3:19, deveríamos fazer pelo menos as seguintes perguntas ao texto:
1º Quem pregou?
2º Que "espíritos" são esses?
3º Que "prisão" é essa mencionada por Pedro?
4º Existe oportunidade de salvação depois da morte?
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Vamos ver as respostas que a Bíblia nos disponibiliza:

1ª resposta: Quem pregou não foi Jesus, e sim o Espírito Santo. No final do verso 18 é dito que Cristo foi vivificado pelo Espírito" e, por isso a NVI está corretíssima em traduzir o termo "Espírito" com letra maiúscula no referido versículo. Isso está em desarmonia com o que Jesus disse em João 16:8, quando declarou aos discípulos que é a Terceira Pessoa da Divindade a função de convencer o mundo "do pecado, da justiça e do juízo".

Tendo isso em mente, não fica difícil entendermos a primeira parte do verso 19 que diz: "no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão". "No qual" se refere ao "Espírito" do verso 18 e, por isso, se alguém tivesse "descido ao inferno" para "pregar aos espíritos que lá estavam", esse alguém foi o Espírito Santo, o "Espírito" que "vivificou" a Cristo, ressuscitando-O dos mortos (Rm 8:11).

2ª resposta: Os "espíritos em prisão" não são espíritos de pessoas mortas, mas pessoas que estavam vivas quando a Palavra de Deus foi pregada a elas. Isso fica evidente quando lemos o verso 20, que descreve esses "espíritos" como sendo aqueles que "desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente, nos dias de Noé [...]." Essas pessoas que desobedeceram a Deus no tempo de Noé foram os antediluvianos, pessoas reais e não espíritos desencarnados.

Através de 1Pedro 3:19, 20 é possível ver que em alguns casos os autores bíblicos usam a palavra "espírito" para se referir a pessoas vivas. Leia, por exemplo, 1João 4:1, onde os falsos profetas (vivos, nos dias de João) são chamados de "espíritos". Já, Hebreus 12:22, 23 usa a mesma palavra para descrever os justos a quem a carta de Hebreus foi escrita.
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3ª resposta: A "prisão" na qual se encontravam os antediluvianos é a prisão do pecado. O termo é usado simbolicamente e não se refere a um lugar literal onde os mortos podem, em meio às chamas, parar para ouvir a Palavra de Deus enquanto agonizam no "fogo do inferno". Provérbio 5:22 nos responde a esta terceira pergunta de modo satisfatório, como podemos ler a seguir: "Quanto ao perverso, as suas iniquidades o prenderão, e com cordas do seu pecado será detido" (ARA).

O apóstolo Pedro nos informa que Noé foi o "pregador da justiça que levou o aviso divino ao "mundo antigo" (2Pe 2:5) de que deveriam se arrepender dos seus pecados antes que viessem as águas do dilúvio (Cf. toda a história em Gn 6-9). Porém, os antediluvianos estavam tão presos pelas cordas dos próprios pecados que não quiseram atender aos apelos do Espírito Santo feitos por meio de Noé.

4ª resposta: O próprio apóstolo Pedro, em sua segunda carta, ensina que os antediluvianos e habitantes de Sodoma e Gomorra não receberam uma segunda chance de salvação depois de estarem mortos (leia 2Pe 2:5, 6). E não poderia ser diferente, pois nosso destino eterno é decidido nesta vida: "Ao contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama 'hoje', de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo pecado" (Hb 3:13). Pelo fato de o pecado endurecer a pessoa, a Bíblia recomenda que o pecador aceite a Jesus hoje, pois amanhã poderá ser tarde demais (2Co 6:2).
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Com base nessas informações, ao lermos 1Pedro 3:19 juntamente com os versos 18 e 20 e outros textos paralelos, podemos, sem medo de errar, traduzir o texto como se segue:

   "Por meio de Noé, o Espírito Santo, que ressuscitou a Cristo, pregou aos antediluvianos que estavam presos pelas cadeias do pecado."

Pedro escreveu a cristão que estavam sendo injustamente insultados pelos pagãos por causa de suas crenças (1Pe 2:12; 3:9; 16; 4:14) e pede que seus leitores vejam um contraste entre o mundo mau dos dias de Noé e o mundo em que eles viviam, para encorajá-los a perseverar em seguir a Deus, mesmo sendo a minoria, assim como Noé fazia parte da minoria.

E, do mesmo modo que Cristo sofreu pelos pecados da humanidade (1Pe 3:18), os crentes foram convidados a sofrer por fazer o bem (1Pe 3:17), certos de que receberão a recompensa do Senhor (cf. Mt 5:11, 12). Afinal, todas as autoridades, sejam humanas ou angélicas, estão sujeitas ao Salvador que saiu vitorioso da sepultura e voltou ao Céu para assumir o governo do Universo.
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O assunto abordado pelo apóstolo nada tem a ver com "vida após a morte", e sim com fidelidade e perseverança cristã em meio aos insultos dos descrentes.

Prof. Leandro Quadros, Na Mira da Verdade, vol. 2 (Casa), p. 50-52.

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